domingo, 30 de novembro de 2008

Reitoria prometeu não punir, mas agora descumpre acordo

FONTE: http://www.adusp.org.br/noticias/Informativo/271/inf27103.html

10 de novembro de 2008


Reitoria prometeu não punir, mas agora descumpre acordo


Em sequência ao debate na FFLCH, realizou-se à tarde um ato em frente à Reitoria da USP com a finalidade de protestar contra a criminalização dos movimentos sociais. As perseguições perpetradas pela Reitoria contra estudantes e sindicalistas representam, segundo alguns oradores, um descumprimento do acordo que levou ao fim da ocupação realizada em 2007.
Os governos estadual e federal foram duramente criticados. “Querem liqüidar e neutralizar o movimento sindical combativo e tentam impor um sindicalismo pelego”, declarou Claudionor Brandão, diretor do Sintusp, que recentemente sofreu suspensão de 20 dias, por sua participação em episódio ocorrido em 2006 (
Informativo Adusp 270). Acusado pela Reitoria de usar a liberação sindical para cuidar de “interesses estranhos” à categoria, Brandão comentou que se trata de uma inaceitável tentativa de ingerência no movimento sindical, pois cabe aos trabalhadores “decidir a quem devem apoiar”.
O professor Luiz Martins, da ECA, lembrou, que pouco mais de um ano antes, “escreveu-se, nesta ‘Praça da Barricada’, uma das páginas mais importantes da história desta Universidade, com a ocupação da Reitoria da USP”. Para ele, os 50 dias de ocupação e resistência impuseram a “primeira grande derrota do governo Serra”, com a demissão do secretário Pinotti e a revisão dos decretos. “As punições rompem com o acordo firmado pela Reitoria em junho de 2007, do qual fui testemunha direta”, afirmou o professor, que integrou a comissão encarregada de mediar o conflito.
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) declarou que o governo Serra vem recorrendo à infame “Lei da Mordaça” (lei estadual 10.261, artigo 242, inciso I), de 1968 mas ainda em vigor, que proíbe os servidores públicos de se manifestarem sobre condições de trabalho, para intimidar e até exonerar funcionários. “Há um movimento na Assembléia Legislativa para revogar esta lei”, informou Giannazi.
Crise
Para o professor José Zago, dirigente do Andes, está em curso no país um processo de instrumentalização da pobreza (programas como Bolsa-Família), cooptação de sindicalistas e criminalização dos movimentos sociais. “O movimento de criminalização é preventivo, para tentar desorganizar a classe trabalhadora. O ataque vai se aprofundar, porque a crise vai exigir”, completou Zago.
O professor Edmundo Dias, diretor da Adunicamp, observou que a derrota do governo Serra, em 2007, foi parcial: “A Secretaria do Ensino Superior continua aí, com a Univesp, uma espécie de videogame intelectual”.
O professor Chico de Oliveira, da FFLCH, destacou a importância da USP: “Esta universidade, todas as universidades públicas brasileiras, são uma surpresa na história deste país. É nossa obrigação aprofundar estas conquistas e não recuar um passo”. Concordou que a Reitoria descumpriu o acordo que garantiu a desocupação. Ele também criticou o governo federal pela tentativa de fragmentar a base do Andes: “Precisamos lembrar ao sr. Luis Inácio Lula da Silva que, quando a Ditadura tentou dividir o movimento sindical, toda a sociedade organizada e democrática colocou-se ao lado dos sindicatos”.
“O governo estadual certamente aprendeu com sua derrota”, disse o professor João Chaves Jr., representante da Adunesp. Para ele, após o revés inicial Serra reagiu, procurando cooptar as reitorias e conselhos universitários. O professor denunciou a “intromissão do governo e o cerceamento da autonomia das universidades, como é caso da imposição, que está sendo aceita de maneira absolutamente servil pelas universidades, dos cursos de formação inicial de professores ministrados à distância” (vide Informativo Adusp 270).
Retrocesso
O professor Américo Kerr (IF), representando a Adusp, criticou a incoerência das reitorias ao perseguir lideranças sindicais e estudantis: “Os dirigentes da universidade, na hora em que querem impor uma disciplina aos movimentos localizados dentro da universidade, não se apercebem de que na verdade estão atacando a capacidade de defesa da universidade pública, gratuita e democrática”.
Não fossem os movimentos em 2007, explicou, “os reitores teriam que pedir licença ao governador para movimentar dinheiro de qualquer alínea para outra; teriam que devolver dinheiro no final do ano; e perder a parcela de sobra no ano seguinte, que é o que ocorre hoje nas universidades federais”. A luta barrou este retrocesso e demonstrou ser fundamental, frisou.
“As punições da Reitoria são o outro lado da moeda do ataque do governo Lula ao Andes”, afirmou Dirceu Travesso. Para ele, o que está em jogo é a concepção de universidade. “Qual é a universidade que queremos? A das fundações? A da Monsanto? Ou a que faz pesquisa para os trabalhadores?”.

Nenhum comentário: